Quantas imagens, vídeos e stories circulam no Instagram todos os dias?
Agora, imagine não conseguir ver nenhum deles: não perceber a força de um protesto, o estilo de um influenciador ou a ternura de um reencontro registrado em imagem. Vivemos em uma rede social que respira pelo visual, mas será que ela realmente se faz enxergar por todos?
Para pessoas com deficiência visual, o Instagram precisa ser acessado por meio de um leitor de tela. Trata-se de um software de tecnologia assistiva que lê o conteúdo exibido na tela do computador em voz alta. Geralmente ele já vem instalado nos aparelhos. Seu celular, por exemplo, já tem um leitor de tela instalado, e você talvez nem soubesse. Quando encontra um texto, o software o lê; mas diante de uma imagem ou vídeo, infelizmente não sabe o que descrever. É aí que entra o “texto alt”: uma descrição alternativa que só quem faz uso do leitor de tela consegue ouvir. Sem ela, parte essencial do conteúdo fica invisível.
O leitor de tela disponibiliza comentários, legendas e textos dos stories, mas não interpreta o conteúdo visual de arquivos de imagem. Se a publicação não traz uma descrição clara no campo de texto alternativo, todo o valor da imagem se perde. A postagem acaba pela metade, deixando quem não enxerga sem uma peça fundamental do quebra-cabeça.
Andrea Mesquita é uma mulher com deficiência visual, psicopedagoga, terapeuta e consultora em audiodescrição, moradora de Lauro de Freitas, na Bahia. Perguntei sobre sua relação com a rede social, e ela disse:
“No Instagram, eu me sinto às vezes impotente e burra. Não consigo às vezes seguir uma linha lógica para navegar por entre as páginas, para voltar de um perfil para o outro, para comentar em algumas postagens... Enfim, é uma sensação de impotência. Muitas vezes não entendo como a rede funciona”.
Andrea consegue imaginar se todas as pessoas fizessem audiodescrição das imagens que posta.
“Eu ia me sentir enxergando. Me incomoda muito quando não posso ver algo. A audiodescrição me ajuda a perceber o mundo, a ler o mundo através dos olhos dos outros, também.”
Outra usuária do Instagram que conversou conosco foi Daniele Menezes Guimarães, moradora do Rio de Janeiro. Ela é uma mulher com cegueira total e atualmente é estudante e consultora em audiodescrição. Dani nos disse:
“Seria perfeito se o Instagram tivesse audiodescrição de todas as postagens. Uma vez que eu não enxergo, não tenho o direito de ver o que as pessoas em geral vêem, e isso é muito frustrante. Seria perfeito se todas as postagens tivessem audiodescrição. Não precisa escrever os mínimos detalhes, mas ao menos o essencial que está sendo passado nas fotos e nos vídeos. Isso é primordial para nós que temos deficiência visual”.
E enquanto o Instagram ainda não adotou nenhuma inteligência que faça isso por nós, cabe a cada pessoa cuidar da acessibilidade de seu perfil.
O desafio não está só na falta de audiodescrição, mas também na própria interface do aplicativo. O Instagram, como outras plataformas fortemente visuais, nem sempre dialoga de forma fluida com leitores de tela. E para quem tem baixa visão e recorre ao zoom ou ao contraste elevado, a experiência também pode ser frustrante, pois nem todos os elementos se adaptam corretamente aos ajustes de acessibilidade.
O jornalista e fotógrafo Teco Barbero, de Sorocaba, interior de São Paulo, diz:
“Eu uso o Instagram. É a rede mais usada para fotografia. Porém, não gosto de muitas coisas no Instagram.”
Teco me disse que não gosta da interface do aplicativo, pois fica com uma visualização pequena no celular e não permite a ampliação da tela.
Inserir audiodescrição no seu conteúdo não é um "gesto de bondade", mas um compromisso com responsabilidade e empatia. É reconhecer que cada seguidor importa e que a mensagem não está completa sem a ponte entre o visual e quem não o enxerga. É garantir que o afeto, a estética e a informação que comunicamos alcancem verdadeiramente todos os públicos.
Quando você pensa em desenvolver uma nova habilidade, como por exemplo fazer um roteiro de audiodescrição de uma foto que postará no seu perfil, talvez julgue que isso levará muito tempo, ou que será muito caro. Mas já existem cursos de qualidade, até mesmo gratuitos, com uma carga horária tranquila e conteúdos muito interessantes. A Sinal de Afeto, escola virtual de audiodescrição, pode ser uma boa opção para você começar sua jornada na acessibilidade de conteúdos visuais.
Tabuh Correia-Silva
Audiodescritor, formador de audiodescritores e fundador da Sinal de Afeto
Se você quer aprender a fazer isso com consciência e criatividade, temos uma ótima notícia: lançamos um curso inteirinho sobre audiodescrição no Instagram — e ele tem, inclusive, uma versão gratuita. É uma oportunidade de entender como tornar suas publicações mais acessíveis e, de quebra, mergulhar em um universo onde cada palavra conta. Bora nessa?